segunda-feira, 22 de junho de 2009
domingo, 21 de junho de 2009
Abaporu
O Sol subiu à sua cabeça, desajeitada como o primeiro avião, pensando o que fazer com tanto céu. Tantos homens comeu, bebeu e vomitou que fora do seu mediano coração crescia um cacto tendendo ao infinito positivo. Era verde como os vermes, grande como grosso, e beijava o irremediável disco solar, na esperança de poder um dia parar de sonhar.
Nos seus sonhos o cacto sonhava com um lindo lar. Verde como era, e amarelo como beijava. Engolia pela boca de Abaporu cada migalha de pão europeu. Deglutia inexoravelmente os carboidratos com sabor de melão, porque só assim poderia ser. Depois de tão grande, já não suportando as dores estrangeiras, o cacto olhou aquele ser parte de si, que inconscientemente comia tanta gente, e com o Sol teve a sua idéia brilhante.
Foi então que segurou a mão pensativa de Abaporu, e ainda beijando o Sol, que tocava a mais bela das canções no universo sem fim, rodopiou-o pelos ares absurdos daquele verão cheirando a calor. Abaporu então viu tudo girar em verde, amarelo e azul, e no segundo que se perdeu pelo espaço da sua pequena cabeça, entendeu finalmente o mistério do planeta.